Chineses não falam a língua, nem convivem, mas são os mais bem integrados
A maioria dos portugueses considera que os chineses são os imigrantes mais bem integrados apesar de não dominarem a língua nem conviverem com os cidadãos nacionais, revela um estudo, que alerta para a percepção de um crescimento de racismo.
Uma equipa de investigadores do Observatório da Imigração analisou o racismo em Portugal estudando os discursos de quatro grupos de diferentes estratos sociais e escalões etários. No final, concluiu que
«entre os participantes grassa a convicção de que o racismo tem vindo a aumentar de forma legítima» devido à ideia subjacente de que
os imigrantes são responsáveis pelo aumento da criminalidade, do desemprego e da descida dos salários.
Havia ainda a «percepção de que
os imigrantes recebem mais apoios sociais do que os portugueses», revela o relatório Discursos do racismo em Portugal: Essencialismo e inferiorização nas trocas coloquiais sobre categorias minoritárias divulgado hoje em Lisboa, Dia Internacional de Luta Pela Eliminação da Discriminação Racial.
Os discursos eram diferentes consoante os grupos sociais em que decorriam as conversas: os jovens e a classe média-alta recusaram fazer generalizações e criticar comportamentos grupais, ao contrário do que aconteceu com os grupos médio-médio e médio-baixo.
Para os mais novos e classe social mais alta é através da educação e do estatuto social que se consegue definir as pessoas. No entanto, há uma minoria que reúne o consenso dos quatro grupos: os ciganos.
A equipa de investigadores ficou preocupada com o
«despudor de todos os participantes em articular um discurso racista em relação aos ciganos», lembrou Edite Rosário, uma das autoras do estudo. Em todos os grupos de discussão, a justificação repetiu-se: as pessoas são hostis em relação aos ciganos porque eles se isolam.
À excepção do grupo de estatuto médio-alto, todos os outros consideraram que a integração se faz em termos económicos e, por isso, apontaram a comunidade chinesa como a mais bem sucedida. Já o grupo de estatuto médio-alto considera que os mais bem integrados são os europeus de leste, por estarem mais dispostos a trabalhar e terem a preocupação de aprender português.
Aos diferentes grupos de imigrantes foram atribuídas diferentes qualidades e defeitos: os chineses ficaram como os mais bem integrados. Edite Rosário lembrou que os elementos do grupo de classe média-média disseram que «não se conhecem chineses desempregados: eles trabalham aos sábados, domingos e feriados». O grupo de classe média-baixa também escolheu os chineses apesar de «não saberem falar português, nunca os verem a passear na rua nem a conversar com outras pessoas», recordou a investigadora.
Ao contrário dos
chineses e indianos, que são vistos como «ameaças económicas», existem ainda
«algumas minorias que são iguais e não gostam de trabalhar» (os ciganos e os romenos). Os ciganos e os «pretos» são também vistos como ameaças físicas e há até quem tenha dito que os brasileiros «matam como quem bebe um copo de água». Houve ainda quem defendesse que
«todos viveriam muito melhor se as pessoas ficassem no seu país de origem».
A apresentação do relatório, que decorreu em Lisboa, foi presidida pela
alta comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse.
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/...ntent_id=14718